Para um trabalho que vem desenvolvendo sobre Teatro, Isabela Lisboa me fez algumas perguntas sobre "Isso Não É Um Sacrifício", texto de Fernando Bonassi, que estreio no dia 27 de Março de 2017 no SESC Ipiranga. Achei muito legal sua abordagem. Reproduzo aqui:
- Como foi o processo de montagem deste que é seu primeiro monólogo?
Esse tema (o apedrejamento) é presente no nosso dia a dia, isso não é bom, mas é verdade. Esteticamente há uma ligação com a imagem da mulher enterrada à espera da execução, portanto pesquisamos imagens desse tipo de tortura. Na encenação a Christiane Tricerri (diretora) optou por usar um conceito italiano de "teatro concerto", onde a voz, os sons dos instrumentos e o desenho de som dentro do palco narram a história junto com o texto. Essa massa sonora tem sido trabalhada nos ensaios. Quanto a mim, procuro com a direção uma verossimilhança que me coloque naquela situação, mas que ao mesmo tempo mostre o quanto essa tortura cruel é patética.
- Como foi o processo de montagem deste que é seu primeiro monólogo?
Esse tema (o apedrejamento) é presente no nosso dia a dia, isso não é bom, mas é verdade. Esteticamente há uma ligação com a imagem da mulher enterrada à espera da execução, portanto pesquisamos imagens desse tipo de tortura. Na encenação a Christiane Tricerri (diretora) optou por usar um conceito italiano de "teatro concerto", onde a voz, os sons dos instrumentos e o desenho de som dentro do palco narram a história junto com o texto. Essa massa sonora tem sido trabalhada nos ensaios. Quanto a mim, procuro com a direção uma verossimilhança que me coloque naquela situação, mas que ao mesmo tempo mostre o quanto essa tortura cruel é patética.
- Você já havia trabalhado com Christiane Tricerri, correto? Como foi esse reencontro?
Sim, em minha primeira peça profissional. Conheci a Chris quando eu ainda estava na EAD. Eu participava de uma peça com direção do Roberto Lage e ela foi assistir. Entrou no camarim no final do espetáculo e disse que eu tinha que estar no Teatro do Ornitorrinco. Como eles preparavam uma nova produção ela me levou para fazer um teste com o Cacá Rosset e fui aprovada. Fiz a Luciana, personagem d´A Comédia dos Erros, de Shakespeare. Eu e a Chris éramos irmãs em cena. Então não trabalhamos mais juntas. Depois de vinte anos ela me mostrou esse texto do Fernando Bonassi e disse que queria me dirigir nesse papel. Gostei muito do convite e do reencontro. Trabalhar com a Chris tem me aberto várias possibilidades como criadora. Gosto muito da concepção que ela teve para levar o texto à cena. Sem contar que voltamos a conviver, o que é excelente.
Sim, em minha primeira peça profissional. Conheci a Chris quando eu ainda estava na EAD. Eu participava de uma peça com direção do Roberto Lage e ela foi assistir. Entrou no camarim no final do espetáculo e disse que eu tinha que estar no Teatro do Ornitorrinco. Como eles preparavam uma nova produção ela me levou para fazer um teste com o Cacá Rosset e fui aprovada. Fiz a Luciana, personagem d´A Comédia dos Erros, de Shakespeare. Eu e a Chris éramos irmãs em cena. Então não trabalhamos mais juntas. Depois de vinte anos ela me mostrou esse texto do Fernando Bonassi e disse que queria me dirigir nesse papel. Gostei muito do convite e do reencontro. Trabalhar com a Chris tem me aberto várias possibilidades como criadora. Gosto muito da concepção que ela teve para levar o texto à cena. Sem contar que voltamos a conviver, o que é excelente.
- E com Bonassi? Qual é o histórico dessa parceria?
É uma parceria prometida, ahaha. Ainda vou escrever um roteiro com ele. Mas nunca tinha feito nada dele. Apenas li os livros e vi filmes que ele roteirizou. Ele tinha uma coluna na Folha de São Paulo que eu recortava e guardava. Outro dia achei os papéis. Eram pequenos contos policiais, estranhos e cotidianos. Eu adorava aquilo. Esse texto que eu faço ele escreveu há uns quatro anos. Infelizmente é atual e parece que será por um bom tempo.
É uma parceria prometida, ahaha. Ainda vou escrever um roteiro com ele. Mas nunca tinha feito nada dele. Apenas li os livros e vi filmes que ele roteirizou. Ele tinha uma coluna na Folha de São Paulo que eu recortava e guardava. Outro dia achei os papéis. Eram pequenos contos policiais, estranhos e cotidianos. Eu adorava aquilo. Esse texto que eu faço ele escreveu há uns quatro anos. Infelizmente é atual e parece que será por um bom tempo.
- No Evangelho segundo João, uma mulher é levada por escribas e fariseus até Jesus Cristo e seus discípulos para ser julgada por adultério. Qual é a relação dessa figura bíblica com a sua personagem em “Isso Não É Um Sacrifício”? Que tipo de delito ela cometeu? Quem são seus algozes? Sob quais leis ela é julgada?
A relação não é direta. Mas você pode fazer, se quiser. Porque aqui se fala de julgamento, condenação, eliminação, farsa, mentira, hipocrisia, enfim... Temas AC e DC. Você é uma mulher, portanto vou te responder que minha personagem cometeu o mesmo delito que você comete todos os dias: ser mulher. Seus algozes são as mentiras absolutas, que tomam forma de "verdades". Não há leis. As leis são forjadas. Ou você acha que existe alguma razão para o que acontece todos os dias com as mulheres? Não, não existe.
A relação não é direta. Mas você pode fazer, se quiser. Porque aqui se fala de julgamento, condenação, eliminação, farsa, mentira, hipocrisia, enfim... Temas AC e DC. Você é uma mulher, portanto vou te responder que minha personagem cometeu o mesmo delito que você comete todos os dias: ser mulher. Seus algozes são as mentiras absolutas, que tomam forma de "verdades". Não há leis. As leis são forjadas. Ou você acha que existe alguma razão para o que acontece todos os dias com as mulheres? Não, não existe.
- Apesar do apedrejamento ter novos formatos nos tempos atuais, intolerância, hipocrisia e, principalmente, falta de empatia, continuam fomentando ofensas no mundo real e virtual. De que forma o espetáculo aborda a agressividade nesses dois ambientes?
Permita-me discordar: só existe um ambiente, o mundo. Portanto a agressividade acontece onde a pessoa estiver. Na fila, no teclado, no banheiro, seus pensamentos são os mesmos. E quem bate não esquece não. Quem bate sabe muito bem o que está fazendo. Mesmo que esteja teleguiado. É disso que estamos falando: da violência aprendida no dia a dia. Seja onde for.
Permita-me discordar: só existe um ambiente, o mundo. Portanto a agressividade acontece onde a pessoa estiver. Na fila, no teclado, no banheiro, seus pensamentos são os mesmos. E quem bate não esquece não. Quem bate sabe muito bem o que está fazendo. Mesmo que esteja teleguiado. É disso que estamos falando: da violência aprendida no dia a dia. Seja onde for.
- A partir do dia 24 você estará só, em cena, dando voz a uma mulher prestes a morrer. Num período de luta contra o machismo e a desigualdade de gênero, esse é o seu manifesto?
Meu manifesto é acordar todos os dias e fazer o que eu quero. As pessoas querem muito que você sofra, que você se anule, que você morra em vida e passe sua existência lutando apenas pela subsistência. Não aceito isso. Acho que todo mundo deve fazer o que quiser. Como dizia o cartunista Glauco: "Nada pode ser pior do que você não fazer o que veio fazer aqui."
Meu manifesto é acordar todos os dias e fazer o que eu quero. As pessoas querem muito que você sofra, que você se anule, que você morra em vida e passe sua existência lutando apenas pela subsistência. Não aceito isso. Acho que todo mundo deve fazer o que quiser. Como dizia o cartunista Glauco: "Nada pode ser pior do que você não fazer o que veio fazer aqui."
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